Os escorpiões pertencem ao filo Arthropoda, mais especificamente à classe Arachnida e a ordem Scorpiones. São conhecidas cerca de 1200 espécies diferentes, e essas habitam áreas tropicais e subtropicais de todos os continentes, excluindo somente a Antártida (Ruppert et al., 2005). São encontrados em diversos hábitats terrestres como florestas, pastagens e desertos. Podem ainda viver em árvores, na vegetação, em cavernas e até mesmo na zona entremarés.
O corpo é dividido em duas regiões principais, o cefalotórax (prossoma) e o abdome (opistossoma) que é estreito e termina em um ferrão, também conhecido como aguilhão, responsável pela chamada ferroada. A presença de veneno no aguilhão é característica exclusiva dos escorpiões. Apresentam pedipalpos de tamanho grande, utilizados na captura de presas. Além disso, os pedipalpos apresentam pêlos sensitivos (tricobótrios) que a partir de vibrações detectam o movimento de presas ou predadores. Os pedipalpos são então usados para a captura das presas, e o aguilhão ou ferrão é utilizado para imobilizá-la e capturá-la. As quelíceras são de tamanho bastante pequeno e não apresentam veneno nenhum, diferentemente das aranhas.
A reprodução é realizada por transferência indireta dos espermatozoides. O macho deposita o espermatóforo, que é uma cápsula com todos os espermatozoides, no chão. A fêmea então é conduzida pelo macho a tocar o espermatóforo com a sua região genital e então, o conteúdo espermático é liberado para a fêmea. Pode ainda haver reprodução assexuada, a partenogênese, onde o óvulo da fêmea é fecundado sem o encontro com um espermatozoide do macho. Os escorpiões armazenam os ovos fecundados dentro do seu corpo, e apresentam cuidado parental extenso, onde investem energia e protegem sua ninhada. Os jovens ao nascerem permanecem no dorso da fêmea, e o abandonam posteriormente se tornando independentes. Algumas espécies podem viver cerca de 25 anos (Ruppert et al., 2005).
Apresentam o hábito noturno, e se iluminados com luz ultravioleta, apresentam uma fluorescência verde bastante enigmática. O motivo dos escorpiões apresentarem essa fluorescência é ainda desconhecido. São carnívoros, e se alimentam principalmente de insetos. Armazenam reservas de alimentos que podem garantir um jejum bastante prolongado, de até 23 meses como observado em cativeiros (Soerensen, 2000).
Os escorpiões que podem causar real envenenamento humano são pertencentes à família Buthidae onde se destacam principalmente o gênero Tityus.
Tityus
Tipos de Escorpião
No Brasil, existem cerca de 30 espécies, possivelmente todas com possibilidade de envenenamento em seres humanos. No entanto só algumas foram associadas a casos ocorridos. São elas: Tityus serrulatus, Tityus stigmurus, Tityus lamottei, Tityus bahiensis, Tityus costatus, Tityus trivittatus, Tityus metuendus, Tityus cambridgei, Tityus brazilae, Tityus neglectus, Tityus mattogrossensis, Tityus fasciolatus, Tityus charreyroni. Entretanto, as outras espécies não podem ser negligenciadas por dois motivos: em primeiro a vítima dificilmente captura o escorpião causador do acidente para posterior identificação dos especialistas; e os acidentes geralmente são causados por escorpiões que apresentam uma capacidade de se adaptar ao ambiente urbano. Assim, é possível a existência de outros escorpiões com veneno capaz de provocar acidentes graves em humanos até então desconhecidos.
A distribuição geográfica e características das principais espécies são apresentadas a seguir: Tityus trivittatus é encontrado no Mato Grosso do Sul e em São Paulo; Tityus cambridgei e Tityus metuendus são espécies encontradas nas matas Amazônicas que apresentam coloração negra e atingem um grande tamanho; Tityus brazilae, Tityus neglectus, Tityus mattogrossensis são espécies encontradas na Bahia, e responsabilizadas por acidentes de pouca gravidade; Tityus fasciolatus é encontrado no Distrito Federal e em Goiás, e podem causar acidentes de certa gravidade da mesma forma que a espécie Tityus charreyroni que é encontrado em Goiás;
As espécies Tityus serrulatus, Tityus stigmurus e Tityus bahiensis são responsáveis pelos casos mais graves e até fatais de acidentes com humanos. Tityus bahiensis é encontrado em Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná e Santa Catarina e é responsável pela maioria dos envenenamentos no estado de São Paulo. Sua coloração é marrom escura ou avermelhada, com manchas de coloração variada nos pedipalpos e nas pernas e o comprimento total é cerca de 7 cm; Tityus serrulatus é encontrado nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Goiás, Distrito Federal, Bahia e Rondônia. Apresenta coloração amarelada com manchas escuras no dorso e cauda enegrecida nos últimos dois terços. Tityus stigmurus é encontrado em Minas Gerais e em toda a região Nordeste exceto o estado do Maranhão. Apresenta coloração amarelada com manchas escuras no dorso e uma faixa longitudinal com manchas escuras na região mediana. Além disso, apresenta cauda enegrecida nos últimos segmentos e um desenho em formato de triângulo escuro na região do cefalotórax.
As espécies Tityus serrulatus e Tityus stigmurus apresentam uma alta capacidade de se adaptarem a novos ambientes, o que garante um contínuo aumento de sua expansão para novas regiões do Brasil. Para alguns pesquisadores as espécies Tityus serrulatus e Tityus stigmurus são consideradas, respectivamente, as formas assexuada e sexuada de uma mesma espécie devido à semelhança tanto morfológica como nas semelhanças do veneno de ambas. Entretanto, já foram encontradas formas sexuadas da espécie Tityus serrulatus em Minas Gerais (Lourenço et al., 1999) o que retoma a classificação inicial que apresenta a existência de duas espécies diferentes.
Picada de Escorpião
Os acidentes com escorpiões ocorrem principalmente com as três espécies já citadas anteriormente: Tityus serrulatus, Tityus stigmurus e Tityus bahiensis. Há um aumento no número de casos atendidos durante os últimos anos. No entanto, os registros de óbitos ainda são raros em comparação com o número de vítimas picadas, ocorrendo principalmente em pacientes menores de 14 anos, chegando a um total de 0,58% de óbitos em todos os casos de escorpionismo (Torres et al., 2002).
O veneno do escorpião tem ação sobre quase todos os sistemas do organismo, sendo os sintomas muito variados, mas agrupados em três categorias: leve, moderado e grave. A dor local é sempre observada, sendo que essa pode ser restrita ao ponto da picada, ou mesmo, insuportável, parecendo uma ‘‘agulhada’’ ou queimação. Em alguns casos, a dor irradia para todo o membro e há formação de um edema na região da picada. Os sintomas sistêmicos podem ser diversos desde náuseas, vômitos, dor de cabeça, tontura, tremor, agitação, palidez, sudorese, extremidades frias, contratura muscular, tremores, espasmos, pressão arterial baixa, pressão arterial alta, falta de ar até sensação de ‘‘choque elétrico pelo corpo’’ como observado para a espécie Tityus cambridgei (Pardal et al., 2003). Os casos leves apresentam apenas sintomas locais. Enquanto que casos moderados apresentam manifestações sistêmicas como vômitos, náuseas, agitação, frequência cardíaca agitada e pressão arterial alta. Casos graves apresentam manifestações sistêmicas intensas como vômitos frequentes, sudorese generalizada, sensação de frio, palidez, agitação alternando com sonolência, tremores, espasmos, frequência cardíaca alterada, e pode haver ainda choque cardiocirculatório ou edema pulmonar, sintomas diretamente responsáveis pelos óbitos relatados por picadas de escorpião.
Tratamento Picada de Escorpião
O tratamento inicial é feito com analgésicos visando combater a dor local da picada e é o suficiente para quase todos os casos leves. A administração de soro antiescorpiônico ou antiaracnídico ocorre em todos os pacientes com quadro clínico grave e também com crianças abaixo dos 7 anos com quadro moderado (Cardoso et al., 2003). Para demais pacientes com quadro clínico moderado, realiza-se o combate à dor local, e mantêm-se o paciente sob observação médica contínua.
Os primeiros socorros são os mesmos para picadas de aranhas e outros animais peçonhentos, onde a vítima precisa ser hidratada com água e deve-se elevar o local da picada. O paciente deve ser levado imediatamente ao serviço de saúde mais próximo. Não se devem realizar torniquetes, cortes ou furos no local da lesão ou picada.
Outros escorpiões
Todos os escorpiões apresentam veneno em seu aguilhão e, portanto, as demais espécies podem também causar acidentes, mas todos de gravidade leve, provocando somente dor local. Já foram relatados acidentes com a espécie Brotheas amazonicus (família Chactidae) em centros urbanos da região amazônica e com as espécies da família Buthidae: Rhopalurus agamemnon, Rhopalurus rocha, Rhopalurus acromelas cujos escorpiões apresentam grande porte e suas picadas causam dor local intensa (Cardoso et al., 2003). E também são relatados acidentes com diversas espécies do gênero Bothriurus (família Bothriuridae) possuidores de um veneno com baixa toxicidade e de ampla distribuição em áreas urbanas, quintais e jardins, onde não há qualquer risco de envenenamento grave.
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