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Doenças Causadas por Ácaros

 

A espécie Demodex canis pode infectar os humanos, causando doença benigna de curta duração. Nos humanos, o Demodex folliculorum, de maior ocorrência, habita os folículos pilosos presentes no rosto, costas e peito, e o Demodex brevis, de pequena prevalência, habita as glândulas sebáceas. Ambos são causadores do cravo de pele, embora seja difícil se estabelecer uma relação entre tais alterações e a presença de ácaros. O cravo e a acne são decorrentes de anomalias na eliminação do conteúdo das glândulas sebáceas presentes na pele; dessa forma, o parasito poderia prejudicar o fluxo sebáceo iniciando ou agravando o caso.

Algumas espécies da família Trombiculidae podem parasitar o homem causando dermatite pruriginosa. Essas são conhecidas por “micuins” e, além de causarem prurido intenso, são transmissores de Rickettsia.

Os carrapatos podem transmitir muitos patógenos como vírus, bactérias e protozoários; e superam todos os outros artrópodes em número e em variedade de doenças que transmitem aos animais domésticos e são, após os mosquitos, os vetores de doenças humanas mais importantes. Além da espoliação sangüínea, algumas espécies de carrapatos injetam toxinas debilitantes e paralisantes juntamente com a saliva, às vezes fatais aos hospedeiros, incluindo o homem.

A espécie Argas miniatus, comum em nosso meio e conhecida como “carrapato dos galinheiros”, suga sangue de galinhas e de outras aves, mas não atinge humanos.

Algumas espécies do gênero Ornithodorus, conhecidas por “carrapatos de chão”, devido a seus hábitos de viverem escondidas no chão de casas primitivas e abrigos de animais, saem dos seus esconderijos, à noite, para sugar o homem e animais domésticos. A sucção dura em torno de trinta minutos. As picadas podem provocar no homem forte prurido, eritrema, ferimentos de cura demorada e, até, febre.

Outras espécies deste mesmo gênero vivem em telhados e forros de residências humanas onde se abrigam os morcegos. Além dos morcegos, atacam humanos e outros animais causando prurido, edema e feridas de caráter rebelde.

A espécie Anocentor nitens parasita o divertículo nasal e o pavilhão interno da orelha de eqüinos.

O “carrapato vermelho” do cão, Rhipicephalus sanguineus, pode transmitir patógenos que causam anemias graves e, às vezes, morte de cães. Ele já foi encontrado parasitando humanos, além de ser reservatório e vetor de erliquiose canina.

A espécie Amblyomma cajennense, no Brasil, a mais comum e mais importante na transmissão de doenças para humanos, ataca os eqüídeos, mas tem pouca especificidade parasitária. Suas larvas são conhecidas por “carrapatinhos” ou “micuins” e atacam o homem vorazmente. Os adultos são chamados de “carrapato-estrela” ou “rodoleiro”. Suas picadas causam ferimentos, às vezes, de cura demorada, elas podem reter o vírus da febre amarela e é, em nosso meio, a mais importante transmissora da febre maculosa. Esta doença é causada pela Rickettsia rickettsi, que pode permanecer em reservatórios silvestres e domésticos, como no cão, além do próprio carrapato. Essa espécie de carrapato é também o provável vetor da doença de Lyme no Brasil.

Na picada de carrapatos no hospedeiro, suas glândulas salivares secretam, também, agentes farmacológicos com muitas funções, além de antígenos mediadores de reações nos hospedeiros. Tais substâncias e antígenos provocam aumento da permeabilidade vascular, dilatação dos vasos sanguíneos, hemorragia e prurido intenso no hospedeiro. Promovem, também, degranulação de células sanguíneas de defesa do organismo com lesão dos tecidos.

Em infestações primárias, as secreções salivares provocam uma infiltração dessas células de defesa na lesão. Ocorre ainda formação de edema e eritrema. Em infestações secundárias, além dessa infiltração com formação de edema, há prurido e formação de vesículas.

Há quinze espécies de vírus transmitidas pelos carrapatos aos humanos. As viroses tem como sintomas: desde estado febril com dores de cabeça, articulares ou musculares, até febres hemorrágicas ou agudas e encefalites, com acometimento do Sistema Nervoso Central. Epidemiologicamente, casos de viroses humanas oriundas de carrapatos estão associadas a atividades recreativas ou ocupacionais, quando o homem entre no hábitat desses vetores.
No Brasil, não há muita descrição des variados tipos de febres hemorrágicas, da doença de Lyme e de encefalites além da febre maculosa.

O Boophilus microplus, mais comum e importante ectoparasita de bovinos na América do Sul, provoca enorme prejuízo a pecuária, por meio da espoliação sanguínea, inoculação de toxinas e transmissão de doenças, entre elas a babesiose, hemoprotozoose que infringe sérias perdas ao rebanho, podendo atingir também humanos.

Babesiose:

Considerada, hoje, uma parasitose emergente, é transmitida pelo carrapato e causada por um protozoário do gênero Babesia, este é parasito das hemáceas de várias espécies de animais e de humanos.

O ciclo inicia-se quando o carrapato suga um hospedeiro infectado. Os patógenos disseminam-se pelo organismo desse artropodo e atingem todos os seus órgãos. Nos ovários, podem penetrar nos ovos originando larvas infectadas, sendo transmitidos para a próxima geração de carrapatos. As formas infectantes do protozoário são transmitidas por picada aos hospedeiros vertebrados. Humanos também podem se infectar por transfusão sanguínea.
A babesiose humana é uma doença febril aguda, caracterizada por fadiga, anemia hemolítica, icterícia, hemoglobinúria e mialgias. Seu quadro clínico confunde-se com o da malária.

Diagnóstico: exames sorológicos evidenciam a existência de anticorpos específicos em indivíduos assintomáticos. Durante a fase aguda, que coincide com o pico da parasitemia, o diagnóstico é feito pelo encontro de parasitos em esfregaços de sangue corados pelo método de Giemsa ou de Wright. Na fase crônica ou subaguda, quando a parasitemia é baixa, o diagnóstico pode ser feito por meio de pesquisa de anticorpos, usando-se provas sorológicas e pela inoculação de sangue em algumas espécies de roedores, como hamster.

Tratamento: é feito empregando-se cloroquina, quinina, pirimetamina, pentamidina ou clindamicina. Transfusão sanguínea e diálise são recomendadas para casos mais graves.

Asma e dermatites humanas:

Ácaros pertencentes à família Pyroglyphidae e presentes em poeira doméstica provocam, em quase todo mundo, asma e dermatites humanas, tanto em crianças como em adultos. Sabe-se que, além dos próprios ácaros, seus fragmentos e dejetos (antígenos e alérgenos) são os principais causadores de variadas manifestações alérgicas do aparelho respiratório humano, incluindo a asma.

Desde 1921, havia uma associação entre asma e inalação de poeira doméstica, mas somente em 1935, na Europa, concluiu-se à possibilidade de que os pequenos acarinos encontrados na poeira seriam os alérgenos. Porém, foi somente na década de 60 que se comprovou que as manifestações alérgicas respiratórias causadas pela poeira doméstica tinham os ácaros e seus dejetos como alérgenos.

Locais atingidos e repletos pela descamação da pele, como colchões e roupas-de-cama, e/ou locais sem uso ou limpeza freqüentes são focos ricos em acarinos que irão causar sérias crises de rinite, asma ou tosse em pessoas sensíveis ao serem inalados.

Estima-se que em cada cama exista mais de um milhão e meios de ácaros, que se alimentam de células mortas da pele humana e precisam de umidade para sobreviver. Portanto, as condições de calor e umidade criadas por uma cama ocupada são ideais para as criaturas.

Quando sua cama está arrumada, ela conserva a umidade e os ácaros “fazem a festa”. Já se não se arrumam as camas, remove-se a umidade dos lençóis e do colchão, deixando os ácaros desidratados e à beira da morte, porque esses pequenos invertebrados não conseguem sobreviver em ambientes quentes e secos.

Profilaxia:

- Realizar a higiene de casa com pano pouco úmido para não espalhar a poeira e nem umidificar o ambiente, o que favorece a proliferação dos mesmos;

- Utilizar aspirador de pó;

- Incinerar a poeira retirada;

- Usar colchão e travesseiros de espuma;

- Expor roupas de cama ao sol diariamente;

- Aplicar o fungicida Nipagim (metil-hidroxibenzoato) em solução a 5% em assoalhos e móveis. Esse fungicida impede a
“pré-digestão” da pele descamada que seria utilizada pelos ácaros, assim, esses patógenos morrem por inanição;

Muitas vezes, a remoção de pessoas sensíveis para ambientes mais frios e secos, onde a proliferação do ácaro é menor, é necessária.

Fora do Brasil, foram relatados casos de dermatites causadas pelo Dermatophagoides scheremetewsky. Inicialmente, esse agente ataca o couro cabeludo causando seborréia, que pode disseminar-se pelo corpo se não tratada, provocando neurodermatites difusas, caracterizadas por coceiras constantes.

Os folículos pilosos são invadidos pelos ácaros, que promovem irritação das terminações nervosas e geram pruridos, que são mais intensos à noite.

Tratamento:

- Limpeza correta do domicílio e aplicação de sarnicidas usuais como Deltacid, Tetmosol, Acarsan, etc.

- Combinação de métodos físicos e biológicos em domicílios. Disponível no mercado brasileiro, o aparelho Sterilair atua de modo a ressecar o ambiente, consequentemente, eliminando os fungos responsáveis pela “pré-digestão” dos nutrientes dos ácaros. Estes morrem por inanição pela interferência na cadeia alimentar.

Atualmente, tem-se intensificado os estudos sobre esses ácaros, tanto sob o ponto de vista patológico (imunogênico) e profilático quanto ecológico e biológico. Todos os anos, o sistema público de saúde britânico gasta cerca de US$ 1,3 bi com doenças causadas por esses artrópodos.

Para médicos diagnosticarem as ectoparasitoses, como doenças causadas por ácaros, precisa-se do auxílio laboratorial para identificar o agente envolvido e assim instituir o tratamento e as medidas de controle adequadas ao caso. Isso acontece nas sarnas sarcóptica e notoédrica, doenças causadas pelas espécies Sarcoptes scabiei e Notoedres sp. , ácaros de tamanhos microscópicos que penetram na epiderme dos seus hospedeiros. Não obstante, a sintomatologia provocada por esses ácaros não é específica e pode ser confundida com a de outros agentes etiológicos.

O mesmo ocorre com ácaros um pouco maiores que os citados anteriormente, como é o caso do ácaro Dermanyssus gallinae. Esse parasito vive escondido nas instalações onde permanecem aves, mas só esporadicamente se alimentam nesses animais. Esses ácaros, além de causar anemia e morte de aves, também têm importância para a saúde do trabalhador, pois eles ao manejá-las, também podem se infestar e sofrer os seus efeitos. Assim, será necessário identificá-los para a indicação das medidas de controle.

Zoonoses são doenças naturalmente transmissíveis entre os animais, alguns invertebrados e os seres humanos. A maioria dessas doenças está relacionada a intervenções e/ou posturas inadequadas no meio ambiente e passam a incidir nas populações humanas e nas animais e, principalmente, nos animais domésticos que com elas convivem.

A sarna sarcóptica, notoédrica e a queiletielose são zoonoses manifestadas por dermatoses parasitárias causadas por ácaros que vivem na pele ou dentro do animal susceptível. A variabilidade das manifestações clínicas dessas dermatoses parasitárias reflete provavelmente as variações na duração e na intensidade da reação de hipersensibilidade, além da capacidade do hospedeiro em limitar a multiplicação do parasita.

Fatores ambientais estão intimamente relacionados à exposição a esses ácaros e a ocorrência de dermatoses parasitárias, como, especialmente, o contato com outros animais e a presença de áreas endêmicas. Embora os ácaros causadores não sejam completamente hospedeiros específicos, eles exibem uma preferência por certos hospedeiros. Apresentam também um potencial zoonótico para causar dermatoses nos humanos.

Sarna Sarcóptica:

A sarna sarcóptica ou escabiose, uma das primeiras doenças humanas que teve sua causa conhecida, é uma doença contagiosa humana e de outros animais caracterizada por uma dermatose pápulo-crostosa de intenso prurido resultante de uma resposta imune a produtos de excreção e saliva do artrópodo. É causada pelo ácaro epidérmico Sarcoptes scabiei. Embora seja citado na literatura como hospedeiro específico, esse patógeno pode afetar cães, gatos, raposas e o homem por períodos variáveis de tempo.

O período de incubação no cão é de duas a oito semanas, tornando-se difícil rastrear a fonte da infestação.
Antigamente, essa sarna tinha alta prevalência na população; posteriormente, com o advento de medicamentos mais eficazes e melhoria da higiene, ela tornou-se rara. Porém, a partir da década de 70, aumentou-se o número de pessoas apresentando esse parasito. Possivelmente, as principais razões foram o aumento da população, facilitando o maior contato em ambientes coletivos, como em ônibus por exemplo e promiscuidade sexual.

Esses ácaros adultos perfuram túneis ou galerias na epiderme, principalmente nas mãos, punhos, cotovelos, axilas e virilhas, podem também ser encontrados nas nádegas, genitais externos, seios, costas e pernas. Crianças podem apresentar algumas complicações, como quadros urticariformes e infecções secundárias por bactérias.

Sarna Notoédrica:

A sarna notoédrica (sarna felina) é uma dermatose intensamente pruriginosa e formadora de crostas dos gatos, causada pelo ácaro sarcoptiforme Notoedres cati. Este também pode infestar cães e pode causar lesões transitórias nos seres humanos em contato com os animais infestados.

A sarna notoédrica é potencialmente contagiosa, geralmente por meio de contato direto. O ácaro pode sobreviver fora do hospedeiro por somente alguns dias.

Quetiletielose:

A queiletielose é uma dermatose descamante ou pápulo-crostosa distribuída dorsalmente, causada pelo ácaro superficial Cheyletiella yasguri (cão) e pela Cheyletiella blakei (gato). Essas espécies de ácaros podem acometer várias espécies de hospedeiros, incluindo o homem. Eles são habitantes da superfície, e se alimentam de restos cutâneos superficiais e fluidos teciduais.


Diagnóstico:

São sugestivos para o diagnóstico clínico: a anamnese, o prurido, a localização e o aspecto das crostas. Deve ser feito, também, o diagnóstico parasitológico, que pode ser feito de duas maneiras

- aderindo-se uma fita gomada sobre as crostas, as formas aí presentes ficarão aderidas a fita que é colocada, depois, sobre uma lâmina e examinada em microscópio;

- raspas a epiderme no limite da pele sã e das crostas mais recentes, colher o raspado em lâmina, colocar gotas de substâncias específicas para clarificar e examinar em microscópio.


Tratamento:

No caso do homem, recomenda-se submeter o paciente a um banho morno, demorado, com sabão próprio, para amolecer e retirar as crostas. Depois, aplica-se localmente alguns dos medicamentos indicados: benzoato de benzila (Acarsan e Escabiol), deltametrina (Deltacid loção), tiabendozol (Foldan) ou monossulfeto de tetratiltiuram (Tetmosol) por três dias. Esses remédios são encontrados sob a forma líquida, sabonete ou pomada.

Em casos de contaminação bacteriana, pode-se acrescentar permanganato de potássio à água do banho na proporção de 1:10.000.

A sarna sarcóptica, a sarna notoédrica e a queiletielose são tratadas com ivermectina nos cães e gatos. Esse medicamento, eficaz por via oral, tem sua eficiência demonstrada em humanos tanto em pacientes comuns como em imunodeprimidos. A cura é alcançada com única dose de 200mg/kg, para crianças acima de cinco anos e adultos.
Tratar simultaneamente todas as pessoas da família atingidas pela parasitose, lavar e passar a ferro quente as roupas de cama do paciente enquanto durar o tratamento são medidas gerais indicadas.

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