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Biologia dos Percevejos

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A ordem Hemiptera é constituída por cerca de 82.000 espécies com metamorfose incompleta, o que corresponde de 8% a 10% do total de insetos identificados. Dentre os insetos da ordem Hemiptera mais conhecidos estão os percevejos, barbeiros, maria-fedidas e barata-d’água .

As principais características morfológicas são as peças bucais alongadas, formando um bico ou tromba denominada rostro, que é delgado e usualmente segmentado, formando um aparato para perfurar o hospedeiro, animal ou planta, e sugar líquidos necessários para a alimentação. Os olhos são compostos e proeminentes. Não possuem palpos (apêndices articulados da boca) maxilares e labiais. A maioria é considerada alada, embora existam algumas espécies braquípteras (asas curtas). As asas anteriores são do tipo hemiélitro, quando em repouso as membranas se sobrepõem.

De uma maneira geral, os insetos da ordem Hemiptera possuem metamorfose simples ou incompleta. As asas desenvolvem-se externamente como botões ou tecas alares, que aumentam de tamanho a cada muda e tornam-se funcionais após a última muda.

   

Atualmente são reconhecidas as subordens Heteroptera, Auchenorryncha e Sternorryncha. As duas últimas constituem a antiga ordem Homoptera. Numerosos estudos sobre a filogenia dos “homóptera” baseados em caracteres morfológicos e empregando metodologia cladística(análise das relações evolutivas entre grupos de seres vivos, de modo a obter a sua "genealogia") indicaram que o táxon(unidade de um sistema de classificação dos seres vivos) não é um grupo natural ou monofilético (grupo que inclui todas as espécies derivadas de uma única espécie ancestral). Além disso, estudos recentes empregando métodos moleculares suportam as inferências obtidas com dados morfológicos de que Sternorryncha seria o grupo-irmão de todos os outros Hemiptera.

Subordem Heteroptera

Também conhecidos como percevejos, os insetos da subordem Heteroptera constituem mais de 4.500 gêneros e 38.000 espécies conhecidos. Ocorrem em todas as regiões zoogeográficas (exceto Antártida) e sua adaptabilidade resultou em uma enorme diversidade estrutural e biológica.

Seus ovos em geral são arredondados, ovais, alongados, com cório (casca) simples e resistentes. Ainda, os ovos de muitos Hemiptera possuem um opérculo (especialmente bem desenvolvido em Cimicomorpha) e processos coriônicos ocos (aerófilos) de tamanhos e comprimentos variados.

As ninfas de quinto estádio podem ser classificadas como diminutas (com até 1 mm de comprimento), muito pequenas (com 2,0 a 4,0 mm), pequenas (com 5,0 a 6,0 mm), médias (com 7,0 a 15,0 mm), grandes (com 16,0 a 25,0 mm) e muitos grandes (com mais de 26,0 mm).

Apresentam cabeça triangular a quadrada, com as antenas implantadas lateralmente, frequentemente sobre tubérculos anteníferos. Labro (uma placa mais ou menos móvel e ampla que fica abaixo do clípeo) alongado, triangular, posicionados sobre a base do lábio que surge da região anterior da cabeça e estende-se até a região posterior.

O abdômen varia de oval a alongado, robusto, terminado em um segmento em forma de anel, que porta a abertura anal; os tergitos (escleritos/placas transversais no dorso abdominal) podem ser achatados ou levemente elevados, frequentemente esculturados, com tubérculos, espinhos e áreas pigmentadas.

Apteria (ausência de asas) ou braquiteria (presença de asas curtas) são de ocorrência freqüente na ordem Heteroptera. Os adultos ápteros ou braquípteros podem ser diferenciados das ninfas por possuírem a genitália externa desenvolvida. Em contraste, as formas jovens apresentam o segmento abdominal terminal em forma de anel e somente com abertura anal. Aberturas de glândulas metatorácicas estão presentes em frente ou pouco acima das metacoxas nos adultos, mas nunca nas formas jovens. Ocelos (olhos) estão presentes em adultos ápteros de algumas espécies, mas nunca ocorrem nas formas jovens ou não estão completamente desenvolvidos nas ninfas de quinto instar.

Muitas espécies sofrem mudanças de cor e estruturas morfológicas durante o desenvolvimento, dificultando a sua identificação, o que dificulta a identificação da espécie de Heteroptera através dos imaturos. Na maioria das vezes, é necessária a criação até a forma adulta ou a coleta de ovos e ninfas associadas com os adultos para uma identificação segura.

A maioria das espécies da ordem Heteroptera é terrestre, embora existam insetos aquáticos, incluindo aquelas formas que exploram a tensão superficial. Muitas espécies alimentam-se da seiva de plantas e algumas são consideradas pragas sérias em plantações cultivadas; outras são predadoras e algumas são muito úteis ao homem.

Algumas espécies de Heteroptera são hematófagas podendo ser vetores de doenças como o mal de Chagas, protozoose causada pelo flagelado Trypanosoma cruzii e transmitido pelo barbeiro ou chupanças (Triatoma spp., Rhodnius spp., Panstrongylus spp.: família Reduviidae). Os ovos ora são postos separadamente, ora colocados formando grupos, com um número de ovos mais ou menos constante. As espécies fitófagas fazem posturas sobre as folhas. Muitas, porém providas de ovipositor, fendem os tecidos das plantas, depositando os ovos no fundo das incisões (posturas endofíticas).

Subordens Sternorryncha e Auchenorryncha

Incluem aproximadamente 44.000 espécies agrupadas em mais de 5.300 gêneros e em 55 famílias. Possuem grande variação na forma do corpo e muitas espécies são bastante degeneradas estruturalmente. As ninfas possuem entre 1,0 e 110,0 mm de comprimento. A característica mais distintiva das subordens, assim como nos Heteroptera, é a estrutura das peças bucais alongadas, em forma de “bico”, denominadas rostro. O rostro é constituído por dois pares de estiletes formados pelas mandíbulas e maxilas, envolvidas pelo lábio. Os estiletes formam um tubo com dois canais, um para a saliva e um para o alimento. O rostro aparentemente emerge da margem póstero-ventral da cabeça em Auchenorryncha ou aparentemente entre as pernas em Sternorryncha, o que permite separar as ninfas dessas subordens das de Heteroptera, exceto de Peloridiidae e alguns heterópteros aquáticos.

Imaturos da subordem Auchenorryncha possuem olhos compostos e botões alares como nos Heteroptera. Alguns imaturos da subordem Sternorryncha são curtos e em forma de cerda. Na fase adulta, os Auchenorryncha têm tarsos com 3 segmentos, mas nas fases jovens podem ter um, dois ou três segmentos tarsais, frequentemente, adicionando um tarsômero por muda; adultos e imaturos de Sternorryncha possuem tarsos 1 ou 2 segmentos.

O ciclo vital de alguns Sternorryncha é muito complexo, compreendendo gerações bissexuais e partenogenéticas (desenvolvimento de um ou vários organismos a partir de um óvulo não fecundado), indivíduos ou gerações aladas e ápteras e, algumas vezes, alternância regular de plantas hospedeiras. Todos os Sternorryncha e Auchenorryncha são fitófagos e muitas espécies constituem sérias pragas de plantas cultivadas; algumas transmitem doenças para as plantas. Outras são úteis, constituindo a fonte de goma-laca, corantes e outros materiais. Os ovos não possuem nenhuma diferenciação no cório. Podem ser postos folhas ou galhos, e o desenvolvimento é por paurometabolia, com número de estádios variável nos diferentes grupos. Nas cigarras, observa-se um tipo especial de paurometabolia, com formas jovens de vida subterrânea e uma fase de ninfa imóvel (hipometabolia). Machos de coccídeos, fêmeas de espécies do gênero Margarodes e os aleirodídeos desenvolvem-se mediante um processo que estabelece uma transição entre a heterometabolia (metamorfose incompleta, o animal passa pelas seguintes etapas: ovo-eclosão-ninfa1°estádio-ninfa2°estádio-ninfa3°estádio-ninfa4°estádio-ninfa5°estádio-adulto) e a holometabolia (metamorfose completa, ou seja, o animal passa por 4 fases até o seu desenvolvimento: ovo-larva-pupa-adulto).

Nenhum Auchenorryncha ou Sternorryncha é considerado aquático, apesar de os imaturos de algumas cigarras (Cicadidae) e cercopídeos (Cercopidae) viverem em orifícios com água e algumas cochonilhas (Coccoidea) e delfacídeos (Auchenorryncha, Delphacidae) infestarem plantas da zona entre marés.

Inimigos naturais

São presas de diversos vertebrados e de uma grande variedade de aranhas e parasitos. Seus ovos podem ser predados por ácaros e também por outros hemípteros, coleópteros, aranhas e escorpiões. Muitos Strepsípteros parasitam algumas espécies de Pentanomídeos, uma família comum de Hemiptera. Além disso, percevejos que habitam lugares úmidos são frequentemente atacados por fungos.

Importância

Os insetos se tornam pragas quando conflitam com o bem-estar humano, estética ou lucros. Portanto, o conceito de “praga” é definido de um ponto de vista puramente antropocêntrico. O status de praga de uma população de insetos depende da abundância de indivíduos bem como o tipo de incômodo ou injúria que o inseto causa. Injúria é o efeito geralmente deletério das atividades dos insetos (exemplo: a alimentação) sobre a fisiologia do hospedeiro, ao passo que dano é a perda mensurável de utilidade do hospedeiro, tal como qualidade ou quantidade da produção ou da estética.

Alguns percevejos são considerados “pragas” de plantas cultivadas, podendo resultar em danos a estas plantas, por sugarem da seiva e os cloroplastos, pela entrada de patógenos pelo corte feito para alimentação do percevejo e pela ação tóxica da saliva destes insetos.

No entanto, muitos possuem uma importância ecológica garantindo o equilíbrio ambiental. Muitos percevejos são úteis porque predam insetos nocivos às plantas. Outros possuem importância médica e veterinária; como os representantes da subfamília Triatominae, à qual pertence o barbeiro, transmissor da doença de Chagas; da família Cimicidae, à qual pertence o percevejo da cama Cimex lectularius e outros hematófagos de aves e mamíferos.

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