Morfologia
Posssuem de 5 a 15 mm de comprimento, corpo achatado
e cabeça em forma de escudo. Os segmentos abdominais
podem ser distintos ou fundidos, sendo que o último
segmento abdominal geralmente é fundido com
o télson (último segmento do corpo de
um artrópodo). O aparelho bucal é formado
por peças bucais compactas, que formam uma
massa bucal prognata (com as mandíbulas proeminentes),
protegida por apêndices especializados. As mandíbulas
são rígidas, o que torna possível
a mastigação da matéria vegetal
da serapilheira (camada formada pela deposição
e acúmulo de matéria orgânica
morta em diferentes estágios de decomposição,
que reveste superficialmente o solo). Durante a alimentação,
o alimento é sustentado pelas pernas anteriores.
Como todo crustáceo, possuem 2 pares de antenas,
porém nesses animais o primeiro par de antenas
é apenas vestigial. As antenas constituem o
principal órgão sensorial. Possuem olhos
compostos e pouco desenvolvidos, provavelmente relacionados
a seu comportamento discreto e noturno e a uma dieta
formada predominantemente por vegetação
em decomposição, que não exige
uma visão desenvolvida para ser localizada.
O corpo apresenta uma coloração geralmente
acinzentada.
A arquitetura do corpo está intimamente relacionada
com o tipo de ambiente explorado por cada espécie
e com seu comportamento. Assim, a maioria das espécies
de isópodes terrestres pode ser classificada
como:
• “Corredores”: corpo estreito
e alongado, pernas fortes e tergos (cutícula
que recobre as “costas” do animal) delicados;
quando descobertos correm a encontrar um novo lugar
que lhes sirva de abrigo;
• “Aderentes”: placas dorsais largas
com borda côncava; quando descobertos pressionam
o corpo contra o substrato, aderindo às bordas
côncavas de modo que se torna difícil
removê-los;
• “Roladores”: esses são
os popularmente conhecidos como “tatu-bola”,
cujo corpo possui uma seção transversal
semicircular, de tal modo que quando se enrolam formam
uma esfera perfeita;
• “Espiniformes”: possuem protuberâncias
em forma de espinho e são capazes de se enrolar,
protegendo-se contra predadores; habitam florestas
tropicais;
• “Rastejadores”: tamanho máximo
de 5 mm, tergitos (estrutura dura dorsal) com estruturas
em arcos longitudinais, secção do corpo
cilíndrica e pernas curtas e frágeis;
habitam interstícios e cavernas;
• “Não-conformistas”: reunião
de arquiteturas variadas que não se enquadram
em nenhuma outra por terem adaptações
específicas para um nicho (exemplo: habitantes
de ninhos de aves).
Hábito
Os isópodes terrestres perdem água
para o ambiente com facilidade. Assim, possuem adaptações
comportamentais, morfológicas e fisiológicas
que ajudam a evitar a essa perda excessiva. Um exemplo
claro é a permanência em ambientes úmidos.
Em geral são fotonegativos (fogem da luz e
claridade) e podem diferenciar pequenas alterações
na umidade, possibilitando a busca por abrigos protetores
durante o dia. Algumas espécies possuem a capacidade
de enrolar-se como uma bola (capacidade volvacional),
o que também pode auxiliar na redução
da quantidade de água perdida.
A água perdida por evaporação
é reposta através do alimento úmido
e bebida. Possuem uma dieta composta predominantemente
por material de origem vegetal, o que é possível
devido à associação com microorganismos
que quebram a celulose e a lignina no tubo digestivo.
Ingerem principalmente o material vegetal presente
na serrapilheira. Alimentam-se também de algas,
fungos, liquens, cascas de árvore e qualquer
material animal ou vegetal em decomposição.
Algumas espécies são carnívoras.
Defesa
A capacidade volvacional, além de auxiliar
na redução da perda de água por
evaporação, fornece proteção
contra predadores. Outros mecanismos de defesa encontrados
são o de fuga, o de "fingir-se" de
morto (tanatose) ou o de agarrar-se fortemente ao
substrato. Possuem também glândulas repugnantes
que auxiliam na defesa contra predadores como formigas
e aranhas.
Respiração
Como outros crustáceos, os tatuzinhos realizam
troca gasosa através de brânquias, protegidas
por uma estrutura chamada opérculo. Nos tatuzinhos,
a forma do opérculo (com invaginações
e pseudotraquéias) permite a tolerância
a um ar mais seco e as brânquias retêm
uma camada superficial de umidade.
Reprodução
A reprodução é sexuada. O macho
reconhece a fêmea e determina o seu estado sexual
com sua antena, provavelmente por meio de feromônios
(substâncias químicas secretadas por
um indivíduo, que provocam reações
comportamentais em outro indivíduo da mesma
espécie).
Os crustáceos possuem apêndices abdominais,
chamados pleópodes, que são utilizados
na locomoção. Nos machos desses isópodes,
os primeiros dois pares de pleópodos são
órgãos copulatórios. A fêmea
possui aberturas genitais, chamadas gonóporos.
Durante a cópula, o macho pressiona seu lado
ventral contra um lado da fêmea e injeta os
espermatozóides em um de seus gonóporos
com o segundo pleópode, que é vibratório.
O macho então desloca-se ao outro lado da fêmea
onde o processo é repetido. Os ovos são
fertilizados internamente, numa estrutura chamada
oviduto.
Como todo artrópode, os isópodes terrestres
realizam mudas, tornando possível seu crescimento.
Durante a estação reprodutiva, as fêmeas
de espécies de isópodes terrestres passam
por uma muda especial, denominada “muda ovígera”.
Nesta muda, ocorre a formação de uma
bolsa chamada marsúpio, onde os ovos são
incubados. O marsúpio mantém-se preenchido
de água, de forma que o desenvolvimento do
jovem é essencialmente aquático, apesar
dos hábitos terrestres dos adultos. A água
e o oxigênio são enviados através
de um fluido que é secretado da parede do corpo
materno; as trocas gasosas ocorrem provavelmente entre
a hemolinfa (fluido que tem as mesmas funções
que o sangue dos vertebrados, mas de composição
química diferente) e o fluido marsupial. Geralmente
são incubados de algumas a várias centenas
de ovos e o estágio de eclosão é
uma pós-larva. Os jovens geralmente não
permanecem com a fêmea após deixarem
o marsúpio.
Importância Ecológica
Devido à sua atividade saprofágica
(alimentam-se de matéria orgânica em
decomposição), os Isópodes terrestres
contribuem significativamente para a fragmentação
da serrapilheira e colonização microbiana,
regulando uma etapa fundamental no processo de decomposição.
São considerados decompositores primários,
pois atuam principalmente na quebra da matéria
vegetal, promovendo sua fragmentação
e assim facilitando e acelerando a ação
de bactérias e fungos decompositores. O consumo
de serrapilheira por esses animais estimula a comunidade
microbiana do solo, promovendo um aumento da respiração
e da biomassa microbiana. Conseqüentemente, ocorre
um aumento da disponibilidade de macronutrientes no
solo.
Esses animais apresentam a capacidade de tolerar
grandes níveis de metais pesados, o que permite
que sejam amplamente utilizados como modelos de estudo
sobre ecotoxicologia (efeitos tóxicos causados
por poluentes sobre animais - incluindo seres humanos
-, vegetais ou microorganismos) e bioacumulação
(acúmulo de um composto químico em altas
concentrações em um organismo), sendo
assim um organismo de excepcional importância
para o monitoramento ambiental.
A qualidade da matéria orgânica no solo
e as condições climáticas do
ambiente interferem diretamente no desenvolvimento
dos isópodes. Serrapilheiras de baixa qualidade
ou contaminadas com metais pesados são menos
consumidas, resultando em menor assimilação,
reprodução e sobrevivência. Os
isópodes respondem positivamente a adição
de matéria orgânica no solo, colonizando
rapidamente pilhas de esterco e resíduos de
cultura, mesmo quando esses possuem concentrações
elevadas de xenobióticos (compostos químicos
estranhos a um organismo ou sistema biológico).
Em florestas manejadas pode-se observar uma alta densidade
de isópodes em acúmulos de detritos
de madeira sobre o solo. Aliando-se ao fato de que
são capazes de promover uma perda significativa
de massa da matéria orgânica depositada,
é possível imaginar o manejo desses
organismos para otimizar os processos de decomposição,
tanto em pilhas de composto, quanto em situações
de cultivo que utilizem coberturas de solo.
Além disso, as fezes do “tatuzinho”
funcionam como “microesponjas” e ajudam
a reter a água do solo. Os compostos orgânicos,
resultado da alimentação com folhas,
aumentam a conservação de umidade no
solo. Assim, os tatuzinhos são organismos que
também afetam processos como o ciclo da água,
a ciclagem dos nutrientes e a conservação
do solo, sendo importantes na conservação
da biodiversidade.
Utilização como bioindicadores
A ocorrência e abundância de certas espécies
de isópodes terrestres têm sido utilizadas
como indicadores da qualidade de paisagens naturais
e antropizadas. No entanto, ainda são necessárias
pesquisas para determinar níveis de abundância
e diversidade associados a cada tipo de paisagem.
Existe uma tendência a maior abundancia em pradarias
semi-naturais do que em ambientes florestais, que
por sua vez, abrigam maior densidade que áreas
agrícolas. Um estudo observou que em florestas
úmidas a abundância de isópodes
terrestres é bem maior do que em áreas
mais secas. Cultivos anuais apresentam menor abundância
desses animais, enquanto cultivos agroecológicos
de maracujá e amendoim, por exemplo, apresentam
uma abundância elevada, provavelmente devido
ao sombreamento e ao solo rico em matéria orgânica
de alta qualidade nesses ambientes, com temperatura
amena e alta umidade. Plantios florestais também
apresentam densidades elevadas, enquanto as menores
densidades são registradas em áreas
de pastagens. Entretanto, a diversidade de espécies
de Isopoda existentes em áreas de agricultura
e silvicultura intensivas é muito baixa provavelmente
devido à alta mortalidade promovida por efeitos
diretos ou indiretos do manejo, como a aplicação
de inseticidas e herbicidas. Essa diminuição
da diversidade pode levar a prejuízos na agricultura.
Além dos parâmetros de diversidade e
abundância usados como bioindicadores da qualidade
do ambiente, os isópodes terrestres tem sido
muito utilizados em pesquisas sobre contaminação
e bioacumulação de metais pesados no
solo. Isso porque são animais relativamente
grandes, abundantes e fáceis de manter em laboratório,
além de serem capazes de acumular altos níveis
de cobre e outros metais pesados através da
imobilização desses metais. O acúmulo
ocorre em um órgão chamado hepatopâncreas,
responsável por produzir enzimas para o metabolismo
e estocar substâncias de reserva. Em resposta
à contaminação, os animais passam
a apresentar comportamentos de rejeição
ao alimento, acumulação ou excreção,
em intensidades variáveis para cada espécie.
Danos à agricultura
A diversidade, abundância e atividade desses
animais devem ser estimuladas, pois são extremamente
benéficos ao solo devido a seu papel essencial
na decomposição de material orgânico
Deve-se considerar o potencial dos isópodes
terrestres em agroecossistemas, principalmente os
conservacionistas.
Menos de 2% do total de espécies de “tatuzinhos”
podem apresentar algum dano à agricultura.
Isso ocorre raramente e apenas em situações
em que a infestação é muito alta
ou há redução na diversidade
de espécies. Os danos à agricultura
acontecem geralmente à noite, já que
são animais de hábito predominantemente
noturno. Alimentam-se então de órgãos
jovens das plantas já crescidas e de plantas
novas em sementeiras, cortando-as rente ao solo. Podem
causar danos também a raízes. Podem
se alimentar de orquidáceas, roendo as raízes
e os brotos; de pimentões, cortando as plantas
na base; de tomate, feijoeiro, ervilha e outras hortaliças.
As únicas espécies que podem apresentar
danos à agricultura são: Armadillidium
vulgare, Porcellio laevis, Porcellionides
pruinosus e Benthana picta.
o Armadillidium vulgare (Figura 1): É a espécie
de mais fácil reconhecimento por ser a única
das quatro a apresentar a capacidade de enrolar o
corpo em forma de bola, quando acuada. O corpo é
convexo cinza escuro. O macho mede cerca de 13 mm
e a fêmea cerca de 15 mm de comprimento. É
originário da região mediterrânea,
provavelmente da parte oriental. Encontra-se distribuído
por diversas partes do globo, devido à ação
do homem.
o Porcellio laevis (Figura 2): Caracteriza-se
por ter a forma do corpo ovalada. A coloração
é parda arroxeada. O macho mede cerca de 16
mm e a fêmea cerca de 17 mm de comprimento.
o Porcellionides pruinosus (Figura 3): É
uma espécie muito semelhante à anterior,
possuindo uma maior contração do metassoma
em relação ao mesossoma e apresenta
os lobos laterais da cabeça menos pronunciados
que os de P. laevis. A cor do corpo é parda
arroxeada apresentando uma linha clara mediana na
porção dorsal do metassoma. O macho
mede cerca de 11 mm e a fêmea cerca de 13 mm
de comprimento. Originário da região
mediterrânea oriental, além de povoar
todas as regiões cultivadas pelo homem, ocorre
também em regiões desérticas.
o Benthana picta (Figura 4): Possui corpo
convexo de forma ovalada. As antenas apresentam o
flagelo com três artículos. A cor é
amarela esverdeada com manchas claras espalhadas pelo
corpo. O macho mede cerca de 11 mm e as fêmeas
12 mm de comprimento. Este isópode tem sua
distribuição assinalada para a Argentina
e Brasil.
(Imagens disponíveis no site:
http://www.zookey.com.br)