Como
é feita a desinsetização (dedetização)
em bibliotecas, meios utilizados e riscos ao acervo
Vários
agentes são responsáveis por diminuir a durabilidade
do acervo e a estrutura física de bibliotecas, sendo
os agentes biológicos os que apresentam maior perigo.
Dentre estes se destacam roedores, brocas, cupins, piolhos
de livros, traças e baratas.
Na ocorrência
de infestações sérias, ou não
sendo os problemas resolvidos com técnicas preventivas,
torna-se necessário o tratamento direto contra a “praga”
detectada. Esta estratégia só deverá
ser usada como último recurso. Existem tratamentos
químicos e não-químicos; sempre que possível,
deve-se usar os meios não-químicos.
Os tratamentos
químicos comuns usados para o controle de artrópodos
(principalmente de insetos) incluem os aerossóis tipo
chamariz (substâncias que atraem os insetos para as
armadilhas, às vezes matando-os); iscas (que são
ingeridas pelos insetos); inseticidas de contato e residuais
(normalmente, aplicados nas rachaduras e fendas; matam pelo
contato e/ou pela absorção do pesticida pelo
artrópodo); pós (por exemplo, ácido bórico
ou sílica em pó, que desidratam os insetos ou
interferem no sistema regulador da água); espargimento
de praguicida (por meio de equipamento apropriado); fumigantes
(que expõem o acervo infectado a gás letal);
e tiras residuais de vapor contra pragas (o artrópodo
absorve o pesticida ao caminhar sobre suas tiras residuais,
enquanto estas evaporam). Também se usam às
vezes repelentes, como as bolas de naftalina, cuja finalidade
é apenas afastar, e não matar os insetos.
Os gases fumigantes
estão entre os praguicidas mais tóxicos e permanecem
no ar, podendo espalhar-se com facilidade sobre uma grande
área. O óxido de etileno é um exemplo
dos gases que podem ser utilizados comumente em bibliotecas
e arquivos. Esse método é eficaz contra insetos
adultos, larvas e ovos.
Em geral, os fumigantes
e outros praguicidas podem provocar problemas de saúde
a curto ou a longo prazo (meses ou anos após exposição),
cujos sintomas podem variar de náuseas e dores de cabeça,
incoordenação motora (ataxia), ansiedade, alergia,
agitação, tremores, sonolência, confusão,
dificuldade de fala, labilidade emocional, problemas respiratórios,
convulsões, coma e até câncer. Muitos
praguicidas também danificam os materiais tratados
e nenhum tratamento químico proporciona um efeito residual
capaz de impedir a re-infestação. A consciência
crescente dos riscos fez com que se passasse a dar ênfase
cada vez maior aos métodos não-químicos
para controle das pragas.
Dentre os vários
processos não-químicos os mais promissores são
o congelamento controlado e a modificação da
atmosfera. Dentre os métodos cujos resultados não
foram satisfatórios estão o uso de calor, da
radiação gama e das micro-ondas.
O congelamento
controlado é eficaz porque não envolve produtos
químicos, não colocando em risco a saúde
dos funcionários da biblioteca ou do arquivo. Pode
ser usado na maior parte dos materiais da biblioteca e parece
não danificar o acervo.
É necessário
embalar e lacrar os itens, a menos que seja utilizado um congelador
com controle de temperatura e umidade. Os sacos deverão
ser lacrados de imediato para impedir a fuga dos insetos.
Alguns artrópodos podem aclimatar-se a temperaturas
baixas se forem mantidos em áreas frias antes do congelamento
ou se o congelamento ocorrer de forma lenta, podendo desenvolver
resistência.
Os itens não
podem ser amontoados no congelador e, o que é mais
importante ainda, o material deverá ser congelado rapidamente.
A temperatura do congelador deverá atingir 0°C
em quatro horas e -20°C em 8 horas. A grande maioria dos
tratamentos bem-sucedidos relatados foi conduzida a - 29°C
pelo período de 72 horas, há também relatos
de uso bem-sucedido de -20°C durante 48 horas.
As peças
deverão ser lentamente descongeladas — (levadas
a 0°C em 8 horas) e depois devolvidas à temperatura
ambiente. Repete-se a seguir todo o processo para garantir
sua eficácia. Os objetos permanecerão embalados
(entre seis e oito meses) até a monitorização
do espaço indicar que o problema dos insetos foi resolvido.
Da mesma forma que os tratamentos químicos, o congelamento
não oferece benefícios a longo prazo. Se não
retornar para uma área da armazenagem com boa manutenção,
o material poderá ser re-infestado.
A modificação
da atmosfera tem sido amplamente usada nos setores agrícola
e industrial para o controle da infestação de
artrópodos. O termo refere-se a diversos processos:
redução do oxigênio, aumento do dióxido
de carbono e uso de gases inertes, principalmente do nitrogênio,
usando uma câmara, ampola de fumigação
ou expulsor químico para reduzir o oxigênio em
invólucros hermeticamente fechados. Parece não
resultar em danos óbvios para o material. Há
um perigo potencial para a equipe na exposição
a altos níveis de dióxido de carbono, mas não
há efeitos residuais.
O calor pode exterminar
efetivamente os artrópodos; foi utilizado amplamente
no processamento de alimentos e na medicina. A temperatura
de 60°C durante pelo menos uma hora matará a maioria
dos insetos. Mas não se deve usar o calor para eliminá-los
de material de papel, porque sua utilização
nos níveis necessários para matá-los
acelerará enormemente a oxidação e o
envelhecimento do papel – o material poderá tornar-se
frágil ou ser danificado de outra maneira.
A radiação
gama é utilizada na esterilização de
cosméticos, alimentos e produtos agrícolas,
material médico e equipamentos de hospitais e laboratórios.
Ela pode ser eficaz contra insetos, mas a dose mínima
letal para as várias espécies é ainda
desconhecida e é afetada por variáveis como
condições climáticas e natureza do material
infestado. E, o que é mais importante, há evidências
de que a radiação gama pode iniciar a oxidação
e provocar a cisão das moléculas da celulose,
com possibilidade de danificar seriamente o papel. Existe
também um efeito cumulativo quando o material é
submetido a repetidas exposições. Conseqüentemente,
não se recomenda o uso de raios gama.
As micro-ondas
(M.O.) embora usadas com êxito nos setores alimentício,
agrícola e têxtil para controlar insetos, não
se recomenda esta estratégia para acervos de biblioteca,
pois tem penetração limitada, e não funcionará
quando se tratar de livros grossos e/ou com baixa umidade.
Sua eficácia também depende do tipo de inseto
e da intensidade e freqüência da radiação.
Os fornos de M.O. variam em intensidade, de modo que é
extremamente difícil determinar os tempos e as temperaturas
padrão para o tratamento. O principal argumento contra
as M.O. é o perigo de dano ao material tratado. As
páginas e as capas podem ser chamuscadas; atavios metálicos,
como grampos, podem ser distorcidos; e os adesivos podem enfraquecer,
provocando a soltura de folhas das lombadas em certos livros.
O congelamento
e a modificação da atmosfera apresentam-se atualmente
como as alternativas mais promissoras aos praguicidas tradicionais.
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