Quais
os produtos utilizados? Existem riscos à saúde
dos pacientes?
Praguicidas são
produtos químicos com função de matar,
repelir e controlar insetos, roedores, fungos, e outras “pestes”.
Embora na maioria dos frascos conste somente a composição
do princípio ativo do produto, sua composição
é bastante variada: Na mistura contida em um frasco
de praguicida, podem ser encontradas substâncias ativas
e inertes, substâncias sinergistas, além de contaminantes
e impurezas.
As substâncias
ativas, geralmente a única substância listada
na composição dos praguicidas, são compostos
químicos biologicamente ativos, que matam ou repelem
o organismo alvo (insetos, roedores, ervas, etc.).
Os compostos inertes
são as substâncias que "carregam",
estabilizam ou conservam os princípios ativos dessas
formulações, como solventes, estabilizantes
ou surfactantes (detergentes), e chegam a constituir mais
de 95% do produto. Alguns desses compostos "inertes"
são, muitas vezes, mais tóxicos que o próprio
princípio ativo.
Sinergistas são
produtos químicos adicionados aos praguicidas para
aumentar a potência da substância ativa. Esse
papel “catalisador” dos produtos sinergistas também
lhes confere toxicidade.
Contaminantes
e impurezas são subprodutos do processo de fabricação
dos praguicidas, e podem contribuir para a toxicidade do composto.
Há também
a formação de subprodutos gerados quando esses
agentes são expostos ao ar, água, solo ou luz
do sol, além da formação de metabólitos
nos organismos vivos. Esses produtos podem ser mais tóxicos
e prejudiciais que o próprio praguicida.
A exposição
humana a esses agentes pode ocorrer através da inalação
de fumaças ou pós que contenham o produto, através
do consumo de água ou alimento contaminados com praguicidas,
ou até mesmo pelo contato com superfícies contaminadas,
sendo o produto absorvido pela pele. A forma mais comum de
contaminação é pelo contato com a pele.
A maioria desses
produtos informa na embalagem sobre os métodos corretos
de aplicação ou maneiras de precaução.
As informações sobre saúde são,
geralmente, limitadas a avisos sobre efeitos imediatos do
contato com a substância ativa, mas não informam
sobre os riscos e efeitos da exposição em longo
prazo.
Muitas vezes,
o efeito dos praguicidas é paliativo, não eliminando
a fonte do problema, mas controlando o acesso das pragas a
determinados locais. Um exemplo desse efeito paliativo é
a utilização de inseticidas para matar formigas
presentes no ambiente, eliminando somente os insetos trabalhadores
- a formiga rainha, que produz novas formigas, continua na
colônia e o problema não é resolvido.
Além disso, muitas espécies de insetos, fungos,
roedores e até plantas daninhas se tornaram resistentes
aos praguicidas mais comumente utilizados, tornando difícil
a sua erradicação.
Os principais
causadores de problemas em hospitais, no entanto, são
insetos e roedores, que têm fácil acesso ao interior
do local através de rede de esgoto ou devido à
proteção ineficaz nas entradas de ar do estabelecimento.
Os produtos utilizados para efetuar a desratização
e desinsetização de hospitais são rodenticidas
e inseticidas domissanitários de uso profissional e
autorizados pelo Ministério da Saúde.
Os rodenticidas
utilizados geralmente são de ação anticoagulante
e de dose única, dispostos como iscas em locais estratégicos
do ambiente. Essa forma de controle evita que sejam espalhadas
grandes doses desses produtos pelo local, além de o
efeito tóxico não ser tão prejudicial
quanto vaporizar ou fumacear o ambiente com os inseticidas.
A intoxicação
por rodenticidas pode ocorrer principalmente após ingestão
ou exposição inalatória e cutânea
ao composto, embora não se possa excluir a ingestão
acidental ou mesmo proposital do produto. Após contato
único com esses produtos, o paciente pode se apresentar
assintomático, principalmente se for acidental. Já
doses de 5 a 10mg/dia de warfarina (anticoagulante amplamente
utilizado) podem desencadear sintomas em adultos e provocar
distúrbios hemorrágicos. Os sintomas geralmente
têm início um a três dias após a
ingestão e o quadro clínico inclui sangramentos
espontâneos e/ou gengivais, hematomas, sangue na urina,
hemorragia vaginal e gastrointestinal. Fora esses sintomas,
os pacientes podem apresentar fadiga e dispnéia, como
consequências de um quadro anêmico (devido à
perda de sangue pelos sangramentos espontâneos).
As classes de
inseticidas mais utilizados são os Piretróides
e/ou Organofosforados líquidos e, na maioria das vezes,
são vaporizados ou fumaceados no ambiente, uma vez
que a iscas não são tão eficazes para
insetos quanto para ratos. Essas formas de desinsetização
merecem atenção maior em um ambiente hospitalar,
pois gotículas ou pó contendo o inseticida podem
contaminar alimentos e/ou materiais que terão acesso
direto ao paciente. Ao contrário do que muitos pensam,
a ação não acaba quando ele seca sobre
uma superfície. Os resíduos podem permanecer
no local por horas, dias ou até meses após a
aplicação, sendo uma fonte de contaminação
constante.
Os efeitos colaterais
dos inseticidas variam conforme a sua classe (piretróides
ou organofosforados), e as vias de absorção,
no ser humano, também podem variar:
• Os piretróides
são inseticidas que podem ser absorvidos por via oral
e até mesmo por via dérmica (pele), distribuindo-se
rapidamente pelo organismo e podendo atingir o Sistema Nervoso
Central. Os sintomas da intoxicação dependem
da via de absorção e da dose do inseticida.
Normalmente, as manifestações dérmicas
são eritemas (inchaços e avermelhamento da pele),
vesículas (bolhas), parestesias (sensação
de formigamento, quente, frio ou pressão na pele),
prurido (coceira) nas áreas atingidas, principalmente
nas regiões de pele mais sensíveis, como rosto,
pescoço, antebraço ou mãos. Esses sintomas
podem piorar com suor ou água morna. Caso haja ingestão
do inseticida, o paciente poderá apresentar dores na
boca do estômago (dor epigástrica), náuseas
e vômitos, que se iniciam em um período de 10
a 60 minutos após a exposição. Os sintomas
sistêmicos mais importantes são sonolência,
cefaléia, fadiga ou fraqueza. Caso o paciente ingira
doses mais altas do piretróides, pode evoluir para
um quadro de coma em um período de 15 a 20 minutos,
além de poder também ocorrer convulsão.
A inalação do inseticida pode provocar coriza,
congestão nasal ou até mesmo sensação
de “garganta arranhada”, além de reações
de hipersensibilidade, como espirros, rinite, sinusite, faringite,
bronquite e pneumonia.
• Os organofosforados
também podem ser absorvidos por diversas vias, sendo
as vias oral, dérmica e respiratória as mais
comuns. A absorção oral pode ocorrer acidentalmente,
permitindo que o inseticida adentre o organismo e atinja outros
sistemas, como o Sistema Nervoso Central. A via de penetração
dérmica é o principal meio de intoxicação
ocupacional, causando reações de hipersensibilidade
nas áreas que entraram em contato com o inseticida.
A via respiratória também pode ser uma porta
de entrada do composto no organismo, tanto para trabalhadores,
quanto para pacientes e funcionários que entrem em
contato com o composto sem equipamentos de proteção.
Os sintomas mais comuns causados pela exposição
aos organofosforados são lacrimejamento, salivação,
sudorese, diarréias, tremores e distúrbios cardiorrespiratórios,
podendo levar até a morte, dependendo da dose ingerida.
Basicamente, todos
os inseticidas representam algum risco à saúde
humana. Embora a toxicidade dos inseticidas mais utilizados,
bem como a dos mais novos, seja conhecida e definida, os produtos
mais novos poderão apresentar efeitos colaterais indesejáveis
e ainda não notificados, podendo ser muito prejudicial
à saúde. Muitos produtos deixam o mercado por
serem vetados pela ANVISA, ou mesmo por “saírem
de linha”. Esses cancelamentos podem estar relacionados
tanto a assuntos burocráticos (como não pagamento
de impostos, por exemplo), quanto a medidas de prevenção
devido aos riscos que tal produto poderia levar à população.
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